Por Maria Cristina Furtado

Ele vinha com os olhos atentos, com a face alegre, mas sem um sorriso largo. De mãos dadas corremos, brincamos, rolamos na grama macia. Ele logo me lembrou que, apesar do momento agradável, eu não estava ali hoje apenas para brincar. O rio que margeia o lado esquerdo do jardim sempre foi o limite, o fim do meu restrito horizonte. Hoje, aquelas águas estavam calmas e baixas. As pedras saltavam o leito formando um caminho. Aquela ponte me despertou a curiosidade, adormecida.
Ele me estendeu a mão e me encorajou naquela passagem. O lado de lá causava medo. Era algo distante, escuro, como uma mata fechada. Corremos de mãos dadas entre as árvores. Mais à frente havia uma clareira. Me coloquei no centro e a luz do Sol ficou mais forte, me enchendo de energia. Naquele momento eu parecia me curar da miopia, não só a dos olhos. Enfim, me senti a protagonista de meu próprio filme.
Já era hora de partir. Nos pusemos de novo na mata e a volta pelo caminho de pedras foi bem mais fácil. Ansiosa, peguei meu caderninho mágico. Mal nos despedimos e eu já estava na saída do jardim. Como num rito de passagem, uma iniciação, pude conhecer um pouco mais sobre o lugar onde eu estava, sobre a minha bolha e as bolhas que me atraem. E aquele horizonte restrito passou a se perder de vista. E ele prometia estar ali, sempre à minha espera.
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