sábado, 21 de fevereiro de 2009

Comportamento

Da Vaidade

Por Dani Baleeiro*


É certo que há vaidosos e vaidosas. Alguns com aquele desejo incontrolável pela mais perfeita estética, outros com a ambiciosamente cega sina de querer ter aquilo que pode ou não ter, o importante nesse caso é a posse.

Mas estive analisando um outro tipo de vaidade inerente a todo e qualquer ser humano, animais também. È a necessidade imprescindível de sentir-se amado ou ao menos, bem quisto.

E caminhamos todos, nesse mesmo paradigma de querer pertencer ao universo alheio, de ter a ousadia até de querer ser o sonho de alguém. E persistimos, conquistadores, Don Juans, interesseiros, farseiros, sedutores e muitas vezes atores. Sim, porque nesse momento, o que importa é que alguém, escolhido por nós, nos adore acima de qualquer coisa.

Achamo-nos no direito imprudente de invadir a vida de alguém que nossa imaginação egoisticamente acredita ser o ideal para um companheiro, um namorado, um parceiro. Partimos então para a conquista. E tecendo motivos e oportunidades, vamos plantando um emaranhado de vínculos e afinidades que possam , fatidicamente, tornar-nos interessantes , atraentes e até mesmo indispensáveis na vida de alguém. Até ai, a vaidade é simplista e sutil. O problema é que ela cresce, desaflora ao longo do envolvimento. E de repente, estamos totalmente imersos em nossa falácia de querer manter a nossa totalidade enquanto donos do mundo do outro. E a noção de alteridade se esvai feito orvalho que evapora. Começamos assim,o assassinato de toda chance de permanecermos vivos na vida de quem gostamos, mesmo que somente nas lembranças. Porque somos possessivo- materialistas demais. Queremos não somente habitar o universo do ser amado, queremos ser donos dele, mesmo que inconscientemente. E matamo-nos a nós mesmos acreditando que tal desejo, assim tão inescrupuloso, seja somente amor verdadeiro ou excessivo. A verdade, é que a vaidade ai não é o sentimento em si, é a recompensa meramente pessoal de sentir-se pertencente e proprietário, de saber que somos amados e importantes de algum modo.
O sentimento acaba, o amor acaba, a relação se apaga. Mas a vaidade permanece ali,agora com uma tonalidade mais obscura e tenebrosa, e chama-se orgulho ferido. Da conquista perdida, passamos ao recalque, a impregnação maledicente daquilo que não nos serve mais. Nossa alma hostil segue em desalento. Mas com o tempo vai enchendo-se novamente desta vaidade branca, dessa fome de justificar nossa existência ou saber-se insubstituível.Só não sabemos, pelo menos não de forma consciente, que antes temos que ser importantes para nós mesmos, para a vida que escolhemos ter e transformá-la naquilo que indiretamente venha a proporcionar o bem para todos , ainda que discretamente. A própria consciência de entender todos esses anseios e formas quase primitivas de amar e ser amado é mera vaidade. Vaidade de justificar a nós mesmos,o por quê disso e daquilo, independente de qual postura tomaremos diante de um novo sentimento.

Imbuídos dessa mesma vaidade sentimo-nos capazes de falar sobre a mesma com tamanha autenticidade e soberania que destilamos o veneno sobre nós mesmos e vamos perpetuando essa volúpia maior.

Dani Baleeiro estuda Produção Cultural na Universidade Federal Fluminense. Atua, também, como tradutora de português-inglês. Sempre envolvida com as artes, dançou ballet clássico, estudou teatro e escreve poemas desde os 14 anos. Publicou seus primeiros versos na Antologia dos Poetas do Brasil -volume 6 em outubro de 2007 no contexto do XV Congresso Nacional de Poesia de Bento Gonçalves-RS. Atualmente, além dos estudos, mantém um blog onde periodicamente publica seus textos, poemas e pensamentos

Um comentário:

Lian Tai disse...

Muito de acordo! O Rubem Alves também fala disso... O amor como vaidade. Que nós amamos alguém porque vemos nossa beleza refletida nela. E que constantemente procuramos espelhos que nos digam que nós somos os mais belos. E por isso amamos, publicamos livros, cozinhamos,... sempre à procura do espelho que nos mostre uma imagem bela de nós.