terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Comportamento

Teoria das bolhas: repercussão e devaneios

Entenda como surgiu a teoria sobre relacionamentos que inspirou a criação do blog Revista Bolhas

Por Lian Tai

Como meu primeiro texto para nossa revista, eu gostaria de explicar suas origens, sua proposta e, digamos, sua fundamentação teórica. Bolhas envolve a história de cinco garotas, cada uma com sua própria história, mas todas unidas em torno de uma paixão: fazer perguntas, confabular respostas, imaginar mundos possíveis, debater, debater, debater. Coisas importantes e desimportantes. Questões pragmáticas e fictícias. Físicas e metafísicas. Não importa o tema, principalmente se houver um espetinho de filé ou de cupim, um suco de maracujá ou de cupuaçu, um rodízio de crepes, um violão. Bolhas é, sobretudo, um convite.

Pra começar, você deve estar se perguntando: “Por que Bolhas, afinal?” ... E chegaremos à Teoria das Bolhas, que parte, esta também, de outra teoria, também das bolhas, porém bolhas outras. Enfim, tudo começou quando meu pai, que é arquiteto e designer, explicava-me algumas noções de ergonomia. Ele argumentava que, ao projetar um cômodo, não se deveria levar em consideração apenas o espaço das funções práticas, mas que cada pessoa tinha necessidade de um espaço mínimo para se sentir bem. “É como se cada um estivesse envolvido por um bolha. A pessoa não tem só a dimensão de seu corpo, mas traz, também essa bolha, cujo tamanho varia de pessoa para pessoa. Para que ela se sinta bem em um lugar, portanto, o espaço deve comportar o tamanho da bolha dela” . Assim foi a explicação que ouvi de meu pai. E foi minha primeira noção sobre bolhas.

Em uma reunião de amigas, expliquei o que havia aprendido. E começamos a discutir sobre o tamanho da bolha de cada uma de nós. Havia, dentre nós, quem tivesse bolha gigantesca. Havia quem quase não tivesse bolha. Mas o tamanho da bolha não é fixo, concluímos, depende de quem se aproxima. A partir daí o rumo da conversa não era mais em relação a cômodos e tamanhos de ambientes, mas em relação ao comportamento de nossas bolhas ao nos relacionarmos com outras pessoas. “Quando uma pessoa de quem não gosto entra no lugar, minha bolha se expande. Eu fico incomodada imediatamente.” “Mas quando uma pessoa agradável se aproxima, não tem problema nenhum, minha bolha se encolhe”. Era essa a conversa.

Entre sucos, espetinhos e o desenrolar da vida, as coisas iam fluindo. Um dia, eu e a Júlia, eterna companheira de debates, resolvemos tirar uma semana totalmente “Sex and the city” em São Paulo. Pra quem não conhece o sitcom, ele trata de quatro amigas em New York, que só vivem falando sobre relacionamentos. Estávamos assim, na Nova Iorque brasileira, andando de um lado pra outro, com pacotes de compras na mão e tagarelando sobre o porquê de relacionamentos serem assim e assado. Foi nessa viagem que desviamos de vez a abordagem arquitetônica das bolhas e a apropriamos como uma teoria nossa, sobre relacionamentos.

O resultado de nossos dias “Sex and the city” foi a, enfim, toda nossa, Teoria das Bolhas, um sistema que tenta dar conta do complexo mundo dos relacionamentos e que, na verdade, pode ser estendido a todos os outros âmbitos da vida. Nossas conclusões foram as seguintes: Quando estamos envolvidos com alguém, estamos na bolha da pessoa. Aquele passa a ser nosso mundo e tudo o que mais importa. Podemos dizer, em uma linguagem sociológica, que a bolha em que estamos é o outro significante, ou seja, aquele a quem queremos agradar, cujo julgamento é o que pesa. É por isso que terminar um namoro pode ser tão difícil. Na teoria, a gente sabe que um dia a pessoa será esquecida e outra entrará em nossa vida. Na prática, sentimo-nos como se o mundo ruísse, porque, uma vez que não saímos da bolha, ela é tudo o que conseguimos enxergar.

As bolhas não são necessariamente duradouras, entretanto. Existem aquelas que duram exatamente o período de uma tarefa, de uma atividade. Quem já não se concentrou em um trabalho e passou horas dando o melhor de si, esquecido do resto do mundo? Quem já não se perdeu no tempo ao longo de uma conversa animada, ou de um olhar mais profundo, para logo depois retomar suas bolhas cotidianas? Porém, ao sairmos de uma bolha, ela imediatamente estoura. É impossível retornar a ela. Isso se você realmente conseguir sair, o que pode ser tarefa das mais difíceis. É claro que você pode visitar sua casa de infância, ou reatar um namoro, porém será sempre dentro de outra bolha, nunca a mesma.

Há, também, em nossa teoria, algumas lacunas, perguntas sem resposta ou sem consenso. A Júlia, por exemplo, jura que é possível flutuar em um espaço, livre de quaisquer bolhas, por um tempo. Eu já não tenho certeza. Contribuições são sempre bem-vindas.

Como uma teoria tornou-se uma revista é outra história... Mais águas rolaram, sucos foram bebidos, crepes foram comidos. Nesse tempo, eu, Júlia e Maria Cristina fazíamos os estudos de caso à luz da Teoria das Bolhas, que conseguia explicar grande parte dos eventos. Eu passei a morar no Rio e conheci a Érika, outra companheira de longas conversas.

Porém, apesar de conseguirmos explicar vários fenômenos a partir de nossa teoria, deparamo-nos com problemas práticos. E percebemos que grande parte deles tinha uma mesma origem: revistas femininas. Constatamos que os homens com quem convivíamos, por mais que tentassem agradar, tinham uma visão muito deturpada de nós, mulheres, e acabavam se atrapalhando. E notamos que o processo ocorria em três etapas: 1) As revistas femininas tradicionais publicavam um monte de besteiras. 2) Os homens, na sala de espera do dentista, liam as tais revistas e saíam com a cabeça cheia de minhocas. 3) Resultado: um monte de desentendimentos nos relacionamentos.

Para desmentir as besteiras que eram publicadas, resolvemos nos fazer entendidas publicando a nossa versão. A idéia original era um “Manual para namorados desorientados”, que um dia ainda será posto em prática, vocês verão. Mas resolvemos, como primeiro passo, lançar nossa própria revista. A Taís veio se agregar à nossa família e assim ficou completo o grupo. Apesar de grande parte de nós ser formada em jornalismo, esta não é uma revista de jornalistas. É um espaço onde escreveremos no formato que bem entendermos. Como diria a Érika: “uma revista para nos divertirmos”.

Bolhas é isto, portanto: um espaço para nos expressarmos, para debatermos, para nos divertirmos. Freqüentemente teremos textos de colaboradores, cada qual com sua bolha-contribuição. Esperamos contar com as bolhinhas de todos.

Um comentário:

Canto e Lágrima disse...

Oi, Lian!
Super bacana a iniciativa de vcs!
Me despertou até o interesse em contribuir com a teoria, pois depois de ler sobre as bolhas começo a pensar que cada um traz também bolhas dentro de si. Talvez esse blog, ou melhor os textos que vc publica em seu blog estejam dentro de uma bolha dentro de você, como a maioria dos poemas do meu blog. As bolhas internas seriam as nossas "faces ocultas" (rsrs), não necessariamente obscuras.
Gostei das bolhas, vou adotar.
Visita meu blog tb, e se quiser contribuir, como na nossa antiga sociedade de poetas, esteja à vontade.
Bjos

Carol