quarta-feira, 14 de maio de 2008

Comportamento

O relacionamento metalingüístico

Por Lian Tai


Barthes certa vez afirmou que “passada a primeira confissão, ‘eu te amo’ não quer dizer mais nada”. Discordo. E justifico citando a poetisa Elisa Lucinda, para quem essa declaração não se encerra, definitiva, mas é dinâmica e se renova:

“Te amo mais uma vez esta noite
talvez nunca tenha cometido ‘euteamo’

assim tantas seguidas vezes, mal cabendo no fato
e no parco dos dias.
Não importa, importa é a alegria límpida
de poder deslocar o “Eu te amo”
de um único definitivo dia
que parece bastá-lo como juramento
e cuja repetição parece maculá-lo ou duvidá-lo…
Qual nada!”

Se as palavras dão sentido ao mundo, então uma declaração de amor não é apenas a exteriorização de um sentimento que existe e está guardado. É também sua criação. A palavra tem o poder de criar a realidade. A palavra concretiza.

Mas pior do que o relacionamento sem declarações de carinho são aqueles que se baseiam apenas nessas declarações. São aqueles cujo único diálogo é composto por “eu te amo”, “eu te adoro” e “nosso amor isso e aquilo”. São os relacionamentos metalingüísticos.

No relacionamento metalingüístico, não se conversa sobre uma banalidade qualquer em que um dos parceiros tenha pensado, a não ser “estive o tempo todo pensando em você”. Não se conversa sobre planos e sonhos, a não ser “meu plano é passar a vida inteira com você”. Não se discutem teorias, discute o relacionamento. E só há interesse no que o outro faz ou deixa de fazer se for para assegurar que ele não fez nada que comprometa a fidelidade e a eterna devoção ao parceiro. No relacionamento metalingüístico há dois tipos de comunicação: as declarações de amor e as discussões de relacionamento.

O problema é que, por maior que seja o amor, uma pessoa não se alimenta apenas disso. Cada um de nós vive imerso em uma infinidade de bolhas. Tem o trabalho, tem o fato engraçado que aconteceu, tem as dúvidas, o momento de não pensar, o desafio. Mas às vezes a euforia do amor traz consigo a prepotência de querer ser a única bolha, a soberana. E aí o amor se torna cego, ao não querer enxergar o outro em sua multiplicidade. E o parceiro é reduzido de um ser vivente e pensante para um ser apenas amante.

É essencial para o relacionamento que exista companheirismo. Mas, para que haja companheirismo, é necessário que exista um interesse genuíno pelo outro e um querer bem. A partir daí a convivência ganha novas cores, pois é delicioso ter alguém para compartilhar a vida. Alguém pra discutir seriedades e banalidades. Alguém com quem rir e chorar.

Se houver essa alegria em dividir e ter alguém ao lado, aí quem sabe o “eu te amo” pronunciado será quase desnecessário, pois o companheirismo e a cumplicidade falarão por si. Mas, se além de tudo, vier também uma declaração de amor... ah, aí as palavras transbordarão verdade e haverá a certeza de não serem afirmações vazias.

6 comentários:

Helen Fernanda disse...

Sou sua fã e não abro. ;)

Helen Fernanda disse...

A “gente” inventô um “negocim” chamado “BloGYN”, que é “pra mode us bloguêro goianim”, principalmente da “capitar”, interagir tanto na web quanto na vida “rear”.

Para começar a participar, basta na seguinte página entrar: http://groups.google.com/group/blogyn

Para logar basta o seu loGYN do Google usar, ou seja: mesmo “i-meiu” e senha do orkut.

Solicite participar que eu vou te adicionar. Se preferir, pode configurar para não receber “mensagi pur i-meiu” e olhar só na “uébi”. Se não quiser seu bloGYN pessoal espalhar, pode outro blog divulgar.

Acho que essa semana já tem encontro do “pessoar”.

Cansei de rimar e de “r” puxar, vou encerrar.

Leilane disse...

Adoro o textos de vcs! Voltem a atualizar a revista!

Rica. disse...

queria que as donas da revista passeasem pelo meu blog.
JURO que qualquer semelhança é mera coincidencia.
conheci o blog de voces hoje e estou impressionado com alguns posts com conteudos parecidos... no caso do EU TE AMO por exemplo...
bacana... parabens a voces!

Anônimo disse...

E eu penso: como relacionar individualidades?

Anônimo disse...

E certo que as palavras têm o poder de gerar concretudes e essas concretudes, expressa em gestos e ações, que oferecem perenidade ao amor enquanto fenômeno lingüístico. Ai fica uma dúvida: seria a palavra amor algo que se auto reifica enquanto ação ou seriam as ações cotidianas que se "engravidariam" dos significados inerentes à palavra amor? Talvez nem uma coisa nem outro, ou ainda seja as duas coisas...

Gostei do texto!!!